13.4.06

polêmicas - em torno da paixão 01

A cidade que tanto adoro, a velha e linda vila de nossa senhora das neves, ainda assim consegue me surpreender com os equívocos, bobagens e explosões de provincianismo de alguns se seus "ilustres" habitantes! este ano, certos espíritos de alface, já arrumaram uma nova polêmica em torno da já tradicional Paixão de Cristo da FUNJOPE - o beijo. sim, o beijo de judas e de jesus no novo espetáculo Cordel da Paixão de Deus. Tudo começou com um artigo, publicado na net <http://www.paraiba.com.br/colunistas/verColuna.shtml?62>. Fico aqui pensando no tanto de coisas que teríamos para discutir:

[1] em nenhum momento penso que o espetáculo montado com recursos públicos e destinado a um público que prestigia ano-a-ano este evento se proponha a discutir, em nenhum âmbito, a sexualidade de Jesus, visto este assunto não ser pertinente à versão oficial e institucional (católica/cristã) do mito. Não creio também que a a produção do espetáculo, que escolheu por seleção pública autor e encenador, não deve se propor a aviltar o público ou nenhuma instituição, por isso, creio que este nem de longe será o foco do espetáculo. A sexualidade de Jesus já foi alvo de outras discussões, seja na fábula de Martin Scorcese, em A última tentação de Cristo; seja no polêmico Evangelho segundo Jesus Cristo, do autor português José Saramago, contudo, nunca, até onde conheço se levantou a discussão em torno de qualquer outro aspecto da sexualidade do Messias... e não seria, certamente, o espetáculo em montagem em João Pessoa que o faria. Essa exposição, creio, isola o argumento da possibilidade de haver neste espetáculo um beijo "de língua", entre dois atores. Queria saber o que boa parte da nossa comunidade diria se tivesse vindo até aqui a adaptação teatral, de Maria Adelaide Amaral, do Evangelho de Saramago, no qual Jesus andava boa parte do espetaculo sem roupa, simbolizando sua fragilidade humana diante da grandeza de Deus ou da tentação demoníaca, e sua exposição diante do apelo sexual de Madalena, com quem ele "convivia". Queria saber quais os critérios, de moral ou de qualidade artística, seriam utilizados na avaliação deste obra...

[2] tratemos do beijo. sim, foi com um beijo que judas traiu cristo. A partir deste evento, começamos a dimensionar o quanto, em nível simbólico, um beijo pode mudar o mundo. Se um beijo expressa carinho, amor, dada essa formalização, o beijo passou a simbolizar traição! Agora, se o beijo é no rosto, na mão, ou na boca - de Cristo... aí, sim, há realmente motivos a se questionar? Se desconsideramos, no tópico acima, a discussão sobre a sexualidade do Cristo, portanto, só me resta, quem sabe, tentar entender por que a polêmica se instaura. Felizmente, de maneira lúcida, um outro articulista (dessa vez, Renato Félix, do Jornal da Paraíba, em sua edição de 29/03/2006), afirmou: "O beijo na boca entre Jesus e Judas é um cumprimento que remonta à Antiguidade. Isso acontecia entre os persas, os gregos, os romanos e até na Renascença, quando algumas pinturas retratam dessa forma o famoso “beijo de Judas”. E mesmo nos dias de hoje, o beijo na boca entre homens não é estranho como cumprimento, por exemplo, na Rússia. // A própria Bíblia não faz referência ao local onde Judas beijou Jesus. O beijo não é citado no evangelho de João e nos de Mateus, Marcos e Lucas, apenas se diz que Judas o beijou, mas não onde. Logo, alguém pode mesmo dizer que o “selinho” não aconteceu? Mas considerar que a partir disso estaria se insinuando uma suposta homossexualidade de Cristo é um pouco de desconhecimento da História."

[3] Obviamente, também, não poderemos desconsiderar a encruzilhada da discussão entre arte/estética e política, visto ser considerada a, possível, "concepção socialista" da montagem. Curiosamente, o termo socialismo é utilizado num sentido vulgar, que ora parece sinônimo de hippie ou de comunista que come criancinha, mesmo que estejamos diante de pares opostos. Assim, nem vale a pena discutir o que se entende po essa concepção socialista... Pena, também, que, sempre, a discussão sobre arte aqui em João Pessoa tenha muitas cordas no pescoço - as pessoas nem viram ainda o resultado da obra artística e já a julgam e lavam suas próprias mãos! quanta bobagem! mais bobagem ainda por que querem unir a discussão sobre arte com política! Por que não discutimos, isso sim, política cultural!? Afinal, ainda, estamos diante dos velhos dilemas - estetizar a política ou politizar a estética? não sei qual o caminho, mas, talvez, ao invés de se espalhar isto ou aquilo sobre a obra artistica quem nem está acabada ou divulgada - e pior, conseguir demandar atenção! - talvez devessemos discutir a proposta de arte que queremos pra nossa cidade! Talvez seja essa a grande questão - mesmo que as vozes se elevem - naum podemos nem trair quem somos, nem o que acreditamos, ou seremos como Judas e estaremos apenas dando o primeiro passo rumo à forca.

[4] o artigo publicado na internet, como outras vozes que se sempre se levantam, julgam impertinente a montagem de um espetáculo da Paixão de Cristo. Aqui também teríamos boas discussões: será que, apenas, pela temática religiosa podemos julgar um espetaculo - afinal é sobre isso que estamos falando - como pertinente ou impertinete...? Uma coisa não diz da outra, principalmente, diante dos avanços artísticos verificados no ano passado e que serão reafirmados este ano. Sobre isso, espero o espetáculo estrear - daí conversaremos bem mais!


Beijos em todos! não o beijo de judas que eles querem, mas aquele em que acreditamos!

Diogenes Maciel