18.4.06

o menino triste

Dia desses, andando de carro e envolto nas reminiscências, lembrei de uma história antiga - alguém me contou, quando eu era criança, entre balanços de rede, a história do menino triste, que, sozinho, queria enfrentar o mundo. tal qual aquele poema de António Nobre, ele se enfeitava de flores, como nossa senhora das dores, para enfrentar tudo e todos. mas, só, só sofria. muito. e a sua dor imensa não se aplacava. como nunca se aplacam as dores... E, de tanto sofrer, cansou. foi atrás de vida. tocou-se de flores, novamente. mas, não encontrava nada. nada. descobriu que as flores eram de plástico e que, apesar de que, já dizia a música, "as flores de plástico não morrem", ele descobriu que elas apenas travestiam a dor, com beleza, mas a beleza era de plástico. ela era anti-natural. e ele se sentou, num canto qualquer, ainda mais só. ainda mais triste. lembro que, na história, as pessoas até queriam ajudá-lo, mas, simplesmente era impossível: ele era inatingível em seu silêncio, inexpugnável em sua face, indissolúvel em sua crença numa vida que não existia para além dele. lembro, também, que eu ficava triste com toda aquela tristeza - "tão profunda que nem um Prozac podia alcançar", claro que eu só entendo isso hoje, quando posso ver tudo claramente. quem sabe a vida não pode ser mais fácil pra ele um dia, quando 'over the rainbow', ele descubra que a vida poderia ter sido mais simples. que as flores, mesmo que morram, têm sua beleza. que tudo muda, tudo é frágil, tudo passa....