4.5.06

Macabéa

Sempre ouvi falar do filme A hora da estrela, com a nossa estrela paraibana Marcélia Cartaxo. Filme meio mítico pra gente destes lados, para nós "nortistas"... de repente, uma atriz paraibana, lá de Cajazeiras, estava no topo do mundo, ganhando um prêmio importantíssimo em Berlim, depois só reservado para a grande Fernanda Montenegro. Mas, Marcélia esteve lá antes. É o máximo, não é?
A fábula de Clarice Lispector é construída em cima dos questionamentos que tanto comparecem em sua obra: o exixtencialismo, certa dor dor de existir, o questionamento sobre o estar no mundo, um universo de possibilidades que se tornam impossibilidades. Macabéa é uma jovem de 19 anos recém completos, orfã de pai e mãe, criada pela tia na cidade grande. A tia morre também e ela fica só no mundo. Arranja um emprego de datilógrafa num escritporio, mesmo que tenha fgrandes habilidades - na realidde, ela é mantida no emprego pela intervenção do gerente, que, inexplicavelmente, simpatiza com ela, apesar de seu trabalho mal-feito.
Impressiona no primeiro momento a multiplicação dos pedidos de desculpa - que, creio, preparam a construçaõ da personagem (fico me questionando se alguém consegue antipatizar com aquela criatura, com a expressão tão triste, tão frágil...?) - ela pede desculpa ao gerente pelo trabalho mal-feito, sujo, emporcalhado pela suas mãos sujas do sanduíche que, prosaicamente come sobre os papéis; ela pede desculpa à dona da pensão que lhe apresenta um contrato e que a repreende por assinar sem ler; ela pede desculpa ao fiscal do metrô (lugar mais lindo pra ela!) por estar na ponta da plataforma... ela pede desculpa, enfim, por existir. Macabéa tem sua vida circunscrita ao trabalho e ao quarto d apensão, onde ouve a rádio-relógio e aprende sobre o mundo, sobre palavras que ela não conhece, sobre a vida lá fora. É interessante como no filme, enquanto ouve, ela escreve, como se estivesse querendo reter o mundo que lhe chega pelas ondas do rádio, um mundo difícil de entender, principalmente em contraposição à construção infantil da atriz que, naturalmente, não sabe lavar as mãos direito, que limpa o nariz no vestido do trabalho, que não tem muita habilidade com o próprio cabelo ou que usa o penico embaixo da cama.
... agora, tenho que ir trabalhar, mas volto a este assunto mais tarde. É o jeito escrever, pois tenho que falar sobre o impacto deste filme sobre mim...