antunes filho já revolucionou nossa cena teatral de muitas maneiras. a primeira delas foi quando em 1964, com Vereda da Salvação, ele trouxe um texto incomodo para aquele contexto pós-6 para os palcos do TBC, coma tores descalços, gritando, mal-vestidos... depois ele instaurou um novo momento de nossa cena, já no CPT, com a adaptação da rapsódia Macunaíma, para os palcos e criou não só um movimento quanto balizas estéticas que, até hoje, são buscadas por aqueles que, como eu, tem saudades do que não viram... depois, foi a vez de ele trabalhar com o universo daquele autor que, de muitas maneiras, também marca a nossa cena teatral. caso de Nelson Rodrigues. Seja Paraíso Zona Norte, seja Nelson 2 Rodrigues, Antunes estabaleceu uma maneira de ler cenicamente a obra deste dramaturgo no palco.
nunca tinha visto antunes com nelson. fui ver senhora dos afogados. vantagem; é um dos emus textos preferido daquele dramaturgo. a fáula que remete ao mito dos atridas, notadamente, a ultima parte, que tangecia Orestes e Electra. Sendo que o caminho de Nelson é facilitado pela ajuda de Eugene O'Neil que, em sua Electra Enlutada, deu todas as chaves para a atualziação do mito. ok. até ai tudo bem: um autor, um tema meio que recorrente, os cliches de traição-amor-morte. nada que cause muito espanto. espanto mesmo é a encenação de antunes. pra mim definida em apenas uma palavra -- aula. simples assim. como por nelson no palco? junte um elenco de muitos atores, construa um coro de vizinhos, ao invés de vizinhas, o que já dá um belo contraponto. ara o palco inteiro, limpo, não se preocupe com luz, alías, até se preocupe, pois tudo é pensado, mas só utilize no mínimo e pra o sentido máximo e consiga tudo o que vc quiser. vista oas atores com um figurino, simples e, para mim, surpreendente. [duilio me disse q é o mesmo principio dos figurinmos das encenações em que antunes trabalhava com serroni, mas, enfim -- isso só marca pra mim o eterno retorno mesmo] -- todo mundo de preto, afinal, o cenário da fabula é de morte, salvo o filho mais novo, que usa branco, como as cadeiras que são o unico elemento cenografico, combinadas ao piano, em cena. cadeiras brancas para o coro, cadeiras de madeira, duas, para a familia. e brinque-se com issom, de todos os jeitos e formas. o elenco, mesmo que desnivelado, tem grandes atuações -- a moça que faz moema é maravilhosa, o ator que faz misael [que tb fizera quaderna] está nada além de impecavel. a atriz que faz eduarda pra mim é muito boa... e acho poderia destacar mais um tanto, mas pode ser outro tanto de exagero. vou destacar os pontos mais impressionante.
o uso do coro, como nas fotos e imagens de antunes, sempre cruzando o palco, de cochia a cochia. de forma magnífica, torna-se ainda mais impactante com a entrada das prostitutas, avançada a ação, trajadas de uma forma louquíssima cantada em voz irritantemente aguda, em contraponto ao registro bastante grave dos outros personagens. achei que enlouquecia. fiquei louco. muito, muito interessante. interessante, nada. escandaloso. pronto. tres prostitutas, assanhadíssimas [e lembrava de del -- ai um tratamentod e choque!], com roupas esmulambadas, de seios e sexos de fora, cruzam a cena e nos desafiam, assim como dona Eduarda, enquanto re-memoram a puta assassinada do passado. incrivel.
outra coisa bastante rica é o uso da escala de preto e branco, no desenvolvimento do pathos. enquanto o luto marca um mal-estar das personagens e, ao mesmo tempo, uma relação com o universo da morte, a morte mesmo, aquela relacionada ao universo da água ou a morte reparadora ou instauradora da mácula, é representada pelo branco. então, se na cena inicial, enquanto moema dedilha o piano, duas menias correm de ranco ao fundo do palco, remetendo as duas irmas mortas-assassinadas em noem do amor pelo pai; ao entrar o filho mais novo de branco ele representa tanto a morte da mae, como de seu amante [também de branco, marcado pela morte da prostituta] e inverte-se apra o preto do luto ao termino, como também o preto de moema que se converte em ranco apos a morte de dona eduarda. e´incrivel. é antunes.
achando pouco, no domingo, fomos ao galpão do folias, ver o espetaculo "cabaré da santa". construido em torno da chegada da familia real portuguesa em 1808, o folias me deixa completamente tonto ao combinar show de cabaré, inclusive podendo o publico sentar em mesas, comer, beber e fumar durante o espetaculo, com uma forma que transita entre a revista e o teatrod e agit-prop, de maneira incrivel. se o tema empurra tudo aos níveis corporeos, o meio verbal nos lnça numa direção materialista, em que tudo é problematizado. é incrível e, sobre isso, de repente, falo mais depois...
ps: saudades de vcs. saudades de conversar. certo rancor de certos silencios.