24.10.06

Aldeia SESC - primeira noite

Tudo pessoa!

A primeira noite foi, realmente, muito boa. Confesso que perdi o primeiro espetáculo, do grupo sergipano e que a minha atenção só foi conseguida pelo espetáculo DOIS PERDIDOS, adaptação do texto Dois perdidos numa noite suja, de Plínio Marcos. Novamente tivemos em cena os atores de Brasília Arthur Tadeu Curado e Sérgio Sartório. Muito bem os dois. Além das belas figuras cênicas, um ótimo trabalho de interpretação. Destaque para o Paco de Sérgio -- Incrível. Simplesmente, muito bom. Diferente do trabalho em Dois de Paus, dessa vez o ator estava pleno em cena, muito à vontade com o que estava fazendo e dominando os trejeitos, os maneirismos e toda a complexidade da tessitura psicológicos dos indivíduos de Plínio. Enquanto eu via a ação cênica d eum lado, de outro eu ouvia o texto... e pensava em minhas aulas e nas minhas, sempre elas, referências teóricas. Pensava no quanto este texto também serviria á minha cara reflexão em torno da quebra da totalidade do diálogo e, conseqüentemente, das possibilidades de comunicação inter-subjetivas, além, é óbvio, da violência, não só a da dramaturgia. Os atores se estapeavam, se xingavam, se maldiziam, se maltratavam. Um diante das fragilidades do outro, dialeticamente. Alternando-se. Muito bom. E, como disse Giovanni, é bom ver o realismo -- aquele mesmo, do suor, da saliva, da roupa ou da falta dela, da privada, da fragilidade, da lágrima.
Depois dessa peça somos homenageados pelo homenageado Duílio Cunha. Este ano o teatro do SESC leva o seu nome e, a cada noite, teremos fragmentos de suas peças. Hoje foram excertos de "Lembranças do tio Pedro", "Ela, a rua e eu" e "Drama das Almas". Não havia visto nenhuma dessas e, sinceramente, queria ver Drama das Almas. O fragmento, de alguns poucos minutos, me permitia enxergar a densidade do trabalho e as qualidades dos atores em cena. Como eu queria ter visto, em tempos passados, lá na Piollin...
Por fim, terminamos a noite com "O dia em que a Morte bateu das botas", com direção de Edilson Alves e executada pela Cia. Oxênte. Gosto muito do resultado dessa peça. Acho que os atores estão todos muito bem e que a direção é muito eficaz, seja nos desenhos cênicos, na combinação da música-cena ou na relaxação do tema, já tão surrado.
Enfim, foi uma noite e tanto!

23.10.06

Léo e Bia, sim, souberam amar

Léo e Bia (Oswaldo Montenegro)

No centro de um planalto vazio
como se fosse em qualquer lugar
como se a vida fosse um perigo
como se houvesse faca no ar
como se fosse urgente e preciso
como é preciso desabafar
qualquer maneira de amar varia
e Léo e Bia souberam amar
Como se não fosse tão longe
Brasília de Belém do Pará
como castelos nascem dos sonhos
pra no real achar seu lugar
como se faz com todo cuidado
a pipa que precisa voar
cuidar de amor exige mestria
e Léo e Bia souberam amar

sobre os últimos 5 dias

Esta música, de um musical do Off-Broadway, intitulado The last 5 years -- que tenho descoberto e aprendido a amar, já se tornou mais um dos hinos à minha vida... pra quem entende, óbvio...

Still Hurting

Jamie is over and Jamie is gone
Jamie's decided it's time to move on
Jamie has new dreams he's building upon
And I'm still hurting

Jamie arrived at the end of the line
Jamie's convinced that the problems are mine
Jamie is probably feeling just fine
And I'm still hurting

What about lies, Jamie?
What about things
That you swore to be true
What about you, Jamie
What about you?

Jamie is sure something wonderful died
Jamie decides it's his right to decide
Jamie's got secrets he doesn't confide
And I'm still hurting

Go and hide and run away
Run away, run and find something better
Go and ride the sun away
Run away like it's simple
Like it's right...

Give me a day, Jamie
Bring back the lies
Hang them back on the wall
Maybe I'd see
How you could be
So certain that weHad no chance at all

Jamie is over and where can I turn?
Covered with scars I did nothing to earn
Maybe there's somewhere a lesson to learn
But that wouldn't change the fact
That wouldn't speed the time
Once the foundation's cracked
And I'm
Still Hurting

20.10.06

Another day, para Norma

Norma depara-se com o salão de festas completamente vazio. Os ecos, as sombras daqueles que por lá passaram ainda, de alguma forma, estão por lá. Ela, ainda, espera pelo novo ano. O Ano Perfeito. Será que ele vai vir? No fundo, no funda d'alma, ela sabe que não. Não há perfeição. Nem na tela, nem na vida. Ela quer acreditar, ela quer forçar o destino a caminhar por caminhos velhos na esperança de que se encontrem girassóis novos e nítidos.

13.10.06

Aos marinheiros, sobre todas as coisas

SOBRE TODAS AS COISAS
(Edu Lobo / Chico Buarque)

Pelo amor de Deus
não vê que isso é pecado,
desprezar quem lhe quer bem
não vê que Deus até fica zangado
vendo alguém
abandonado
pelo amor de Deus

Ao Nosso Senhor
pergunte se ele produziu nas trevas o esplendor
se tudo foi criado:o macho, a fêmea, o bicho, a flor
criado pra adorar o Criador

E se o Criador
inventou a criatura por favor
se do barro fez alguém com tanto amor
para amar Nosso SenhorNão, Nosso Senhor
não há de ter lançado em movimento terra e céu
estrelas percorrendo o firmamento em carrossel
pra circular em torno ao Criador

Ou será que o Deus
que criou nosso desejo é tão cruel
mostra os vales onde jorra o leite e o mel
e esses vales são de Deus

Pelo amor de Deus
não vê que isso é pecado,
desprezar quem lhe quer bem
não vê que Deus até fica zangado vendo alguém
abandonado pelo amor de Deus.

11.10.06

Curitiba, desde sábado

Meu povo, estava escrevendo um montão. Já tinha quase três parágrafos prontos e, por razões ocultas, esta porra de computador deu 'um trem' fazendo-me perder tudo o que já estava escrito. Que ódio! Tava tão lindo! Mas, vou ver se consigo re-estabelecer...

Queridos todos e todas,

Cheguei aqui em Curitiba no sábado, depois de encarar um puta atraso de quase três horas, visto que tanto no Rio quanto em Sampa as condições climáticas não eram das melhores – havia muita chuva ou neblina, respectivamente. Mas, enfim, cheguei. Confesso que, apesar do cansaço decorrente da viagem, não foi nada de muito anormal – também, eu já tava completamente detonado por conta da semana de cão que eu tive e daí dormi bastante naquela lata de sardinha que costumam chamar de avião. Cris foi me pegar no aeroporto. [Ela tem sido muito bacana, sempre solicita e atenciosa, apesar da sua rotina bem corrida por estas bandas. Mas, como tive a sorte de chegar num sábado, a gente teve tempo de conversar bastante e de andar de um lado para o outro, enquanto ela me mostrava a cidade, os lugares e as pessoas.]

A cidade é, óbvio, muito diferente de Jampa. Seja pelo clima, que está frio – não muito, mas frio, afinal, uns 12 à noite, pra nós das praias quentes do Nordeste, é, sim, frio [esse quadro mudou e de terça para a quarta, os dias têm sido mais agradáveis, mas dizer q está quente talvez seja exagero, por exemplo, agora, enquanto escrevo, estou de calça, camiseta e suéter! Mas, não está frio incomodo, entendem?]– e impõe um outro tipo de figurino e gera uma paisagem peculiar e, conseqüentemente, hábitos bem diferentes nas pessoas, que caminhas nos parques e ficam jacareando ao sol nos gramados. O traçado urbano também é bem diferente. A arquitetura, então, nem se fala. Tudo muito diferente, tudo muito primeiro mundo... e como tenho dito pra Cris, tudo muito estranho. Estranho mesmo. Mas, afinal, bonito. Muita gente alta e bonita, como se todos tivesse tomado bastante vitamina e comido cenoura quando eram crianças.

Aqui perto da casa tem um bosque chamado Bosque Alemão. Um lugar lindo. Lembrei muito de Lygia por conta de um detalhe que ela acharia 'muito fofo' – nas trilhas há indicações em placas que vão contando a estória de João e Maria e levam à casa da bruxa, na realidade, uma biblioteca infantil, no meio daquele bosque, onde as crianças são recebidas por uma bruxinha que conta estórias.. né meigo? -- Enfim, tem um mirante bem lindo e, lá perto, um café com toda sorte de bolos, tortas, doces, massas folheadas... putz! Lembro muito dos meus queridos todos e todas e queria vocês aqui comigo pra gente olhar a vida e descobrir a beleza dessas pequenas coisas como Alberto Caeiro. Certamente, nos sentaríamos ali e falaríamos muito da vida alheia, da gente mesmo, falaríamos de filme e de música e, quem sabe, ficaríamos em silêncio, apenas olhando e achando tudo muito bonito... ai ai!

No domingo, a gente saiu pra almoçar. Minha gente, como assim? O restaurante era quase do tamanho da praça da alimentação do Manaíra e o estacionamento era, com certeza, igual ou maior do que o do Shopping Sul. Uma loucura e, pasmem, ainda esperamos quase 15 min. na fila! Surreal, como tenho sempre definido as coisas por aqui. Passeamos nuam feirinha no Centro, em que se vende de tudo e é um espaço bem legal, com muita gente na rua, todos andando de um lado pro outro e música sendo tocada por artistas de rua, malabaristas, enfim, essas coisas da vida boêmia! Logo mais, á noite, ali pelas 1 horas já, acabamos parando no café chamado Babilônia. O lugar é massa, muito legal. Outro espaço que adoraríamos ir juntos! Tudo muito bonito e muito bacana, agradável mesmo... aqueles lugares que, infelizmente, não temos e que são o máximo por um simples detalhe – eles são 24 horas! Ô maravilha! E viva la vie Boheme!

“[Angel, cinicamente] Who died?
-- [Benny, realmente, sentido] Our Akita.
-- [Collins e Roger, se entreolham] Evita?!”
-- piada só para quem entende!
É justamente isso que estou escutando enquanto lhes escrevo estas mal traçadas linhas...

Enfim, ontem comecei meu curso lá na UTFPR. A turma é boa! Acho que vai ser bem legal!

[Quarta-feira: O curso continua indo muito bem. Eles adoram o nosso jeito de ser nordestino. Explico; acho que não é só por conta do pitoresco do sotaque ou das radicais diferenças regionais. Ontem mesmo, conversando com alguns dos alunos, eles me falavam que parece que nós não ficamos deslumbrados com a titulação e, de repente, eles se espantam com nossa postura em sala de aula e diante do conhecimento. Eu, de minha parte, acho isso um barato. Enfim, de toda sorte é muito engraçado está falando de cultura popular e de danças dramáticas para um universo que é completamente oposto a esse. Os meus exemplos de bumbas, naus, lapinhas são todos completamente alienígenas... é muito engraçado e, ao mesmo empo, meio trágico. Como não nos conhecemos neste país! Acho que a gente tem mais é que chorar bem muito, pois, dessa maneira, as coisas vão estar sempre pretas e a divisão meridional norte-sul continuará, sempre, sendo uma realidade...]

Um abraço pra vocês todos e todas,
tô morrendo de saudade!


10.10.06

curitiba, numa tarde nem tão fria assim...

sem muito a dizer. escrevi um informativo enorme e deixei em casa, no pendrive. amanhã, prometo, atualizo. vcs já ouviram falar em tristeza?
até

3.10.06

1, 2, 3... Matou!

Pois,

cometer ou não orkutcídio, eis a questão.

Para Val:
Hi dear how are you i'm fine thanks and you?

O poder da palavra ou Meryl Streep veste Prada em plena segunda feira

"As palavras, quando rompem a barreira dos dentes, não mais retornam"

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Vão ver o filme! É muito legal!


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O resto...

1.10.06

A gaivota [rascunhos], do Grupo Piollin

Já seria um bom motivo ir até Escola Piollin apenas para ver o nosso novo teatro, recém-inaugurado. Digo nosso pois é assim que o penso. Nossa cidade ganha mais uma possibilidade de espaço de representação, alternativo aos palcos italianos. Se a casa-grande já foi palco de tantos espetáculos como Vau da Sarapalha, o paradigmático espetáculo do Grupo, de O último verso, de Eleonora Montenegro, da Medeamaterial e Blanche rumo aos Campos Elísios, com Ana Marinho, entre outros, agora o Teatro Piollin é inaugurado com a nova produção do Grupo Piollin -- A gaivota [rascunhos], de Tchékhov.
Devo confessar que a minha primeira recepção em relação ao espetáculo não foi das mais tranquilas ou das melhores -- mesmo que hoje esteja pensando tudo diferente. Talvez seja impossível para um espectador "médio" de teatro ver apenas uma vez o espetáculo e ter acesso ao conjunto de signos e de possibilidades semânticas presentes nesta encenação. De outro lado, a linguagem cênica nos expõe a uma relação crítica do ator em vistas da personagem e à própria arte do ator -- numa linha de limite/intersecção com o naturalismo e o distanciamento brechtiano. Também nos impõe um novo lugar na nossa relação com a cena: o do incômodo, o da não passividade, o da avaliação, o da construção dos sentidos em torno do que nos é apresentado. Os atores em cena esforçam-se para encontrar os pontos de vista das personagens, estabelecendo convenções que guiem a platéia nesta aventura. Creio que Everaldo Pontes e Ana Luísa Camino sejam aqueles que estejam mais confortáveis nesta tarefa. Um porque transita de uma maneira aviltantemente sagaz entre o ator-ele mesmo no palco [inclusive com direito a um depoimento pessoal, que cruza um episódio de sua própria experiência com o cosntruto de sua personagem na malha textual] e a outra por conseguir eta alternância mediante uma análise, em minha avaliação, 'racional' desta relação que equaciona a atriz-ela mesma e a personagem. Curiosamente, são os personagens femininos que melhor transitam nestas dimensões. Seriam os seus intérpretes ou seria a própria tessitura das personagens mais ricas, mais interessantes mais vivas?
O espetáculo, parece-me, constrói-se em cima de duas vigas ancoradas na dramaturgia -- aquela em que se discute a relação de oposição entre o novo e o velho [nas formas artísticas, no teatro, nas formas de representar, nos gostos em torno de repertório, nas relações entre personagens] e uma outra alicerçada na dialética entre fracasso e sucesso [na vida, nas relações pessoais, nos projetos estéticos]. De certa maneira, estas vigas também pesariam sobre a história e o lugar desta montagem no contexto atual do teatro paraibano e no lugar do Grupo na história deste teatro. O que nos é apresentado enquanto espetáculo nos põe a discutir questões pertinentes às formas dramáticas e às formas teatrais em nossa cena local. Impulsiona a efervescência de olhares sobre os modos, os fazeres e sobre o lugar da técnica no trabalho do ator, enquanto compositor da cena e de seus sentidos que se entremeiam no texto cênico, resultante do trabalho do encenador a partir do material [ou das possibilidades] dos atores. De outro lado, abre-nos veredas sobre a discussão em torno do repertório, sobre a existência dos grupos estáveis e sobre a necessidade de tais grupos manterem-se trabalhando, montando -- sejam os sucessos de público e de crítica, seja os exercícos de novos rumos e caminhos... que indiquem a necessidade de não parar...
--- Certamente, volto a este assunto. Espero, em breve, discutir mais e mais sobre estes temas. Aqui, só abro os primeiros comentários do que, talvez, possa vir a tornar-se uma análise amis inteira...